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quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Testes comprovam insegurança nos automóveis mais vendidos no país

A maioria dos carros brasileiros sai da fábrica com nível de segurança igual ao que europeus e norte-americanos tinham há 20 anos. Só a ausência do airbag como item de série já deixa os veículos ultrapassados em relação à média mundial, a exemplo das “carroças” dos anos 1990. Testes de colisão realizados pelo Programa de Avaliação de Carros Novos na América Latina (Latin NCAP) com versões básicas e populares de oito modelos revelaram “elevado risco de lesões fatais” para motoristas e passageiros. Mas, por força de lei, o Brasil só corrigirá essa falha a partir de 2014, ano em que o equipamento será obrigatório nos automóveis novos.

Para piorar, a mesma pesquisa mostra que carros feitos no país têm carrocerias frágeis, incapazes de suportar impactos fortes, e apresentam graves riscos de lesão, sobretudo na cabeça do motorista, e de morte aos ocupantes. Os modelos populares, testados com a colaboração das próprias marcas, também foram desaprovados no quesito proteção, particularmente em relação ao peito do motorista e às pernas dos passageiros.

Os testes de impacto frontal— feitos a 64km/h contra obstáculo que simulava um outro automóvel — comprovam a insegurança de alguns dos carros mais vendidos no país. Foram testados os modelos Celta, Corsa Classic e Cruze LT, da GM; Novo Uno Evo, da Fiat; Focus Hatchback e KA Fly Viral, da Ford; além do March e do Tiida Hatchback, da Nissan. Numa escala de uma a cinco estrelas, apresentaram apenas uma. Os mesmos veículos equipados com airbag atingiram três estrelas e ofereceram significativa redução do risco de ferimentos fatais ou graves. A avaliação também defende o uso de cadeirinhas infantis, que só se tornou obrigatória no país ano passado.

Restrições - Apenas os modelos mais caros apresentam níveis de segurança similares aos dos carros norte-americanos. Na Europa, até carros baratos contam com airbags para motorista, passageiro e lateral, além de oferecer melhor segurança geral, sem pesar no preço do veículo. No exterior, o custo de produção de um airbag, fica, em geral, abaixo de R$ 100. No Brasil, a instalação de airbags dianteiros custa, em média, R$ 2 mil.

Os consumidores brasileiros lamentam pelas restrições. A aposentada Maria José Veloso, 58 anos, por exemplo, conta que o preço final do carro acaba deixando itens de segurança em segundo plano. “Até levo em conta se o veículo tem airbag. Mas esse tipo de proteção acaba sendo inacessível, virou luxo. Assim como o cinto de segurança, deveria ser obrigatório, de série, como em muitos importados”, reclamou ela, que está fazendo pesquisas para trocar de automóvel.

A estudante Tatiana dos Reis, 31 anos, compartilha opinião semelhante. “A indústria brasileira é fraca e cara. Além disso, o consumidor não exige muito. Eu mesma só estou começando a me conscientizar”, reconheceu. Por razões como essa, o Latin NCAP incentiva governos, fabricantes e consumidores a priorizarem a segurança. Para isso, considera ainda fundamental a pressão da sociedade, uma realidade ainda distante no país. O casal Eduardo Ramos, 25 anos, e Laina Ramos, 24, por exemplo, quer trocar o carro nacional por um importado, mas não pela segurança, e, sim, pela aparência. “Nunca me importei em fiscalizar se o automóvel é mais seguro. Se gostasse de um modelo e não tivesse airbag, não deixaria de levá-lo”, admitiu Laina. “É questão cultural. Nunca pensamos que um acidente fatal possa ocorrer conosco”, completou Eduardo.

Liderança em acidentes - O primeiro carro com airbag foi o Oldsmobile Toronado, da General Motors, em 1973. A Ford tornou o item padrão em 1990, nos Estados Unidos. Cinco anos depois, a Volvo criou o sistema de uso lateral. Enquanto isso, até hoje, ao contrário do que recomenda a Organização das Nações Unidas (ONU), airbags são considerados opcionais na América Latina, quando deveriam ser um equipamento de segurança obrigatório. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que a região, líder em mortes per capita por acidentes viários, atinja 31 para cada 100 mil em 2020, três vezes o previsto para países desenvolvidos. Como o Brasil, a Argentina também só tornará obrigatório o uso do airbag em veículos novos em 2014.


Fonte: Correio Braziliense

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